Cachete - S. M. Antigamente, no Nordeste do Brasil, era assim que se chamava qualquer comprimido para dor.

sábado, 21 de maio de 2011

Chile: Ajuste de Contas

Judiciário chileno quer identificar,processar e punir militares que mataram Salvador Allende dentro do Pálacio Presidencial, no centro de Santiago


Salvador Allende

Cinco semanas depois de ter anunciado que investigaria “as circunstâncias da morte” do ex- Presidente Salvador Allende, ocorrida a 11 de setembro de 1973 – em meio ao bombardeio do Palácio Presidencial de La Moneda, no centro de Santiago –, o juiz chileno Mario Carroza, um especialista em Direito Criminal, tomou, a 8 de março último, sua primeira providência prática na direção dos principais suspeitos por esse óbito.
Carroza pediu à Força Aérea e ao Exército do Chile os nomes dos pilotos de aeronaves e dos tripulantes dos helicópteros que participaram do ataque pelo ar contra a sede do Executivo, onde o chefe de Estado esquerdista passou refugiado as suas últimas horas. De acordo com Danilo Bartulin, um dos guarda-costas sobreviventes do cerco do La Moneda, os caças da Aviação Militar chilena dispararam quase 50 foguetes sobre o palácio.

europa press
Horas antes do fim: No final da manhã de 11 de Setembro de 1973, o presidente sitiado, e equipado de um capacete militar, ins peciona, protegido por seus guarda-costas, os danos ao La Moneda; no início da tarde ele estaria morto

Pouco antes de ser declarado morto, Allende chegou a ser fotografado de suéter xadrez, blazer e capacete de aço, cercado de guarda-costas armados com metralhadoras (russas) e fuzis. Seu passamento suscita dúvidas que dividem, inclusive, os seus parentes. Amparada em garantias dadas pelo médico particular do pai, Patrício Guijon, a filha Isabel Allende chegou a confirmar que o ex-presidente se suicidara. Mas Guijón já mudou seu relato do drama uma vez – “creio que [Allende] se suicidou de pé, não sentado numa poltrona, como acreditei no começo –, e essa versão foi, com o passar dos anos, perdendo força.
O corpo de Allende foi enterrado na segunda quinzena de setembro de 1976, dentro de um caixão de madeira comum, sem qualquer homenagem. Apenas em 1990 seus restos puderam ter um sepultamento com honras militares – mais condizente com sua história política.

www.isabelallende.comUPI;
A filha Isabel
O juíz Carroza
No final do ano passado, uma ação conjunta da família do ex-Presidente e de dirigentes do Movimento Socialista Allendista – uma dissidência do Partido Socialista em vias de também se transformar em agremiação política –, conseguiu comover o aparelho judiciário chileno. E a 26 de janeiro, Carroza anunciou sua disposição de realizar a investigação requerida, definindo-a como “uma responsabilidade tremenda”.
Ao Ministério da Defesa chileno parece não restar alternativa, senão fornecer à Justiça os nomes e números das carteiras de identidade dos pilotos e soldados equipes que participaram do assalto ao palácio presidencial. Mas allendistas radicais temem que, determinados a evitar vexames para seus colegas da reserva, os atuais chefes militares chilenos tentem uma tramóia, entregando as identificações de militares chilenos já falecidos, não envolvidos com o ataque.

Fernando Garcia Juan Carlos Romowww.educarchile.cl
O guarda-costas Bartulin
Patrício Guijon, médico pessoal de Allende
Almirante Merino

O advogado socialista Roberto Avila Toledo, patrono da ação que solicitou a intervenção de um juiz federal, disse que “a decisão [de Carroza] está em conformidade com a lei”. Segundo ele, “o bombardeio de La Moneda teve a óbvia intenção de matar o presidente. Foi um ato de terrorismo de Estado e um crime contra a humanidade. Os autores devem ser identificados e punidos”.


Tiros no início da tarde

A versão é grandiloquente. Allende teria se matado por volta das 14h de 11 de setembro de 1973, disparando contra a própria cabeça uma arma que lhe fora presenteada pelo amigo Fidel Castro, o “eterno” revolucionário cubano.

O escritório da agência de notícias France Press em Santiago chegou a informar que os disparos teriam sido feitos não com uma pistola, mas com uma arma muito maior e mais letal: um autêntico fuzil-metralhadora AK- 47 – arma padrão das tropas soviéticas durante a Guerra Fria. Estranho. Um revólver bem apontado teria feito o mesmo efeito.
Na verdade, a resistência no La Moneda fora bem curta. A rebelião militar organizada para derrubar o governo de Unidade Popular de Allende tivera início na madrugada daquele mesmo dia, quando o almirante José Toribio Merino prendeu o comandante-em-chefe da Marinha leal a Allende e sitiou as grandes cidades costeiras de Valparaíso, Viña del Mar e Talcahuano.

Acompanhado de perto pelo guarda-costas Bartulin (ao centro, de bigode) Allende percorre as ins talações do palácio bombardeado


O Exército, com o General Augusto Pinochet à frente, dominou a capital Santiago e as cidades do Norte e do Sul ainda pela manhã, com tanques e infantaria. A cobertura pelo ar fora providenciada pelo General Gustavo Leigh, chefe da Aviação. Ele ordenou a decolagem de seus caças Hawker Hunter, de fabricação britânica, que jamais haviam visto um combate de verdade. Tiveram essa chance contra o pequeno agrupamento de defensores do Palácio Presidencial de La Moneda – mal armados, mal organizados e perfeitamente assustados.
O supostamente leal [a Allende] chefe dos Carabineiros, César Mendoza, colocou-se sob o comando dos rebeldes, fechando o cerco contra o que Leigh chamara de “o câncer comunista”. O mais curioso é que o último a aderir ao golpe – a só umas horas da insurreição militar – foi Pinochet, conforme lembrou, em 1987, um livro de Nathaniel Davis, um dos embaixadores dos Estados Unidos em Santiago à época de Allende.


europa press

"Tenho certeza de que meu sacrifício não será em vão”, disse o então Presidente em sua última mensagem de rádio transmitida diretamente de La Moneda, quando os jatos Hunter já cortavam os ares rumo a Santiago, “que pelo menos será uma lição de moral que castigará a traição e a covardia”.
Allende recusou as propostas de rendição, tanto dos novos comandantes militares quanto a de seus próprios companheiros no palácio. Nos bairros populares da capital chilena, a esperada resistência cívica aos golpistas se dissolveu em questão de minutos.
Esse é o episódio que, no início do ano, foi pousar, redivivo, na mesa do juiz Carroza.

Kissinger achava Allende um risco para a América Latina
Mágicas Ruinas
Doutor em Medicina, político desde jovem, ministro e parlamentar, Salvador Isabelino del Sagrado Corazón de Jesús Allende Gossens havia conquistado a Presidência do Chile em 4 de setembro de 1970, como o primeiro marxista declarado eleito chefe de Estado através das urnas na América Latina.
Sua administração foi marcada por desinteligências com os Estados Unidos – divergências que perduraram mesmo depois do bombardeio do La Moneda. Em 1982 o ex-Secretário de Estado – do governo Nixon –, Henry Kissinger (foto abaixo), comentou que o Chile de Allende “tinha a possibilidade de subverter outras nações de forma mais acentuada que Cuba”.
Marion S. Trikosko.
Nixon externara seu desagrado com a nacionalização das minas chilenas de cobre, a maior riqueza do país, que nas mãos de empresas americanas haviam gerado forte lucro.
Ape - sar de admi r a d o r do regime cubano, Allende havia c omemo r a d o sua vitória eleitoral e a derrota da Democracia Cristã e das direitas em 1970 como o começo de uma revolução pacífica – muito diferente da campanha militar de Fidel por Sierra Maestra –, com “sabor de vinho tinto e empanadas” [a tradicional empada chilena, popularíssima nas festas nacionais].
http://www.periodistadigital.com
Allende com Fidel Castro, de Cuba – o amigo que ele nunca escondeu
A queda de Allende aconteceu em um momento em que nem a agricultura nem a indústria – em sua quase totalidade em mãos do Estado –, eram capazes de satisfazer a demanda e o abastecimento mínimo da população. O golpe de 1973 permitiu a ascensão de Pinochet, que governou até 1990, por meio de um Regime Político fortemente repressor – responsável, segundo estimativas recentes, pelo assassinato de, no mínimo, 3 mil importantes lideranças chilenas antifascistas.

2 comentários:

Pedro Alves disse...

A foto postada de Isabel Allende é da escritora e não da filha de Salvador Allende. Esta confusão é comum pois as duas tem o mesmo nome. A escritora é filha de Tomás Allende, funcionário diplomático e primo irmão de Salvador Allende, e de Francisca Llona.

Pedro Alves disse...

É preciso dizer que a frota americana estava em frente a Valparaiso dando cobertura ao golpe. Em verdade, a frota chilena tinha saido de Valparaiso para realizar manobras conjuntas com os americanos e voltaram a noite para o golpe de 11 de setembro.

Nos bairros populares da capital chilena, a esperada resistência cívica aos golpistas se dissolveu em questão de minutos é uma versão que não condiz corretamente com a realidade. A estrategia dos golpista não foi atacar os bairros populares, mas sim, ocupar os simbolos de poder e prender os representantes do poder: Allende e o palacio La Moneda e ocupar o centro da cidade. Depois, e somente bem mais tarde, foi para as 'poblaciones' - os bairros populares.
A estrategia foi cercar o centro da cidade, construindo um cinturão e isolar a resistencia do centro da cidade, da periferia e das 'poblaciones' - os bairros populares.
Dominado o centro, aniquilada a resistencia, o resto - a periferia - seria mais uma questão de 'limpeza' a cargo da policia, os carabineros chilenos - algo semelhante a nossa PM - Policia Militar - com a apoio do exercito.
A estrategia de resistencia ao golpe por parte do movimento popular era atrair os golpistas para as poblaciones. Mas o golpe do Pinochet mostrou que este caminho foi um erro.

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"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil quanto ela mesma."
(Joseph Pulitzer)