Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:
Não poderia deixar de abordar um belo momento do jornalismo brasileiro, a prova definitiva de que não se pode discriminar profissionais que, até por falta de opção, trabalham para o oligopólio pretensamente imperial e antidemocrático que domina a comunicação no Brasil.
Na terça-feira (20), por volta das 19 horas, foi ao ar o programa da emissora a cabo Globo News, o “Em Pauta”, apresentado pelo jornalista Sergio Aguiar, que entrevistou o jornalista Caco Barcelos e teve a participação virtual da jornalista Eliane Cantanhêde.
O começo da entrevista deixa bastante claro que Barcelos, um repórter renomado e corajoso, não seria presa fácil para a manipulação de seus empregadores.
Reproduzo, a seguir, esse diálogo entre entrevistador e entrevistado.
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Sergio Aguiar — Vamos explorar esse seu lado repórter, primeiro: como é que estava a manifestação, lá?
Caco Barcelos — Três mil pessoas me parecem uma forte manifestação “virtual”; o Facebook fala mais de 30 mil pessoas. Na rua, na praça, pouco. Por volta de três mil…
Aguiar — Foi mais “devagar” do que se esperava, então?(…)
Barcelos — É interessante, não é, o pessoal com vassoura? Eu lembro do tempo do Jânio Quadros. O pessoal usava vassoura para “varrer os comunistas”, queriam um regime militar… Não é?
Aguiar — A Vassoura volta, agora, a entrar na moda, será?
Barcelos — Talvez com outra conotação…(…)
Barcelos — Interessante, também, que ninguém protesta contra os corruptores; só contra os corruptos… (sorriso)
Aguiar — Agora, você acha que essa mobilização menor do que o esperada [sic] é porque o brasileiro está um pouco descrente?
Barcelos — Não sei te dizer…(…)
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A Globo mutilou esse belo momento de coragem de um militante do bom jornalismo, responsável, apartidário, e que, dali em diante, travaria com Eliane Cantanhêde um diálogo que constitui um dos mais completos diagnósticos da crise por que passa a grande imprensa brasileira.
No site do programa “Em Pauta”, a Globo cortou o resto da entrevista, quando Barcelos diz a Cantanhêde tudo o que tem sido dito pelos que militam pela democratização da comunicação no Brasil. Falou sobre os assassinatos de reputação, do “jornalismo declaratório”, que distribui acusações que, posteriormente, não são comprovadas, o que faz com que gente inocente pague.
Cantanhêde ainda tentou argumentar que a denúncia da mídia contra o ex-ministro Antonio Palocci, por exemplo, revelou-se “verdadeira” porque se descobriu que ele tinha um apartamento de 6 milhões de reais e, apesar disso, viveria em um apartamento alugado por uma imobiliária que tentou caracterizar como suspeita, apesar de que tal denúncia jamais se mostrou verdadeira.
Barcelos disse a ela que discorda porque faz jornalismo e não “militância política”. E reiterou que há vários exemplos de casos em que a mídia acusou sem provas e as pessoas acusadas, depois, mostraram-se inocentes.
A censura que a Globo impôs a parte da entrevista insinua que Barcelos pode ter problemas. Não será surpresa se, apesar de seu currículo invejável, vier a se juntar a outros que tiveram que deixar a Globo por discordarem do patrão.
Resta dizer que, apesar de haver quem julgue que essas manifestações “contra a corrupção” não passam de militância política da mídia, como bem definiu Barcelos, ele parece se deixar seduzir pela ideia de que a mídia tentar pôr o povo na rua lembra os idos de 1964…
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