O incêndio no gigantesco complexo continuava no domingo circunscrito a dois tanques
(Foto: da Internet)
De Caracas – Muito além do corre-corre natural diante da tragédia causada pela explosão do maior complexo de refinação de petróleo do país – chamado Amuay, no estado ocidental de Falcón, na madrugada de sexta para sábado (41 mortes confirmadas até domingo) -, há a guerra midiática em plena campanha eleitoral em que concorre o presidente Hugo Chávez, buscando sua segunda reeleição no dia 7 de outubro.
E, claro, estão no ar muitas especulações e muitas suspeitas, nas quais joga um papel fundamental o chamado terrorismo midiático, nacional e internacional, que mira em Chávez como um dos seus vilões prediletos. E para reforçar as suspeitas, começou a circular pela blogosfera neste domingo uma matéria citando várias “coincidências” (veja mais abaixo).
Como tenho dito neste blog, em várias ocasiões, não saem da agenda diária da campanha presidencial os alertas dos chavistas e analistas quanto ao “plano B” que estaria sendo germinado a partir das hostes da direita, que tem como candidato Henrique Capriles Radonski, governador do estado de Miranda, já que é tida como muito provável, mais uma vez, a vitória eleitoral do chavismo.
Diante da tragédia da refinaria, todos se lembraram das ressalvas feitas por dirigentes de institutos de pesquisa, ao anunciarem repetidas vezes a folgada diferença das intenções de voto em favor do chefe da chamada revolução bolivariana: a vitória de Chávez só pode ser revertida se acontecer alguma catástrofe, algum evento extraordinário que provoque uma "comoção coletiva", afetando a imagem política do presidente candidato.
A comentarista internacional e advogada Eva Golinger, muito reconhecida no seio das forças bolivarianas, escreveu em sua conta no Twitter: “Não se pode ainda chegar a conclusões sobre a tragédia em Amuay, mas não seria a primeira vez que há sabotagem contra o Estado às vésperas de eleições”. (Faltam 41 dias para a votação).
Mario Silva é considerado um "guerrilheiro midiático" por seu confronto diário pela TV contra os meios de imprensa da direita
(Foto: da Internet)
O apresentador Mario Silva, do celebrado programa La Hojilla (A navalha), da estatal Venezolana de Televisión (VTV), comentou na noite deste domingo – vai ao ar normalmente a partir das 23 horas – que o encadeamento da cobertura de TVs internacionais com a localGlobovisión foi realmente de chamar a atenção no sentido de atrair suspeitas. Da rede de imprensa privada, Globovisión é aqui o maior destaque por seu radical anti-chavismo, inclusive por sua participação no golpe de abril de 2002. Não é à toa que os chavistas se referem a ela como Globoterror.
Claro que a cobertura dos conglomerados privados da mídia enfocou principalmente opiniões e declarações sobre falta ou falhas nos serviços de manutenção e descaso do governo quanto à prevenção de acidentes. Foi divulgado, por exemplo, que moradores das vizinhanças da refinaria vinham se queixando de forte cheiro de gases, e as providências devidas foram negligenciadas. Noticiou-se também a suposta ameaça de falta de combustível, o que foi desmentido pelo governo.
Isso levou Chávez a repudiar os que querem tirar proveito político da situação, comentando quando de sua visita ao local: “Recomendo não cair em especulações, não especular, sobretudo os meios de comunicação. Quem está por aí divulgando coisas como essas, que podem causar alarme, é irresponsável ou fala sem conhecimento”. Sobre as várias hipóteses em torno do episódio, ele declarou que por enquanto nao descarta nenhuma.
As “coincidências” que intrigam
A matéria foi produzida pela estatal Agência Venezuelana de Notícias (AVN) e divulgada pela blogosfera, atribuindo as informações à coleta feita na rede social Facebook pelo “cidadão” J. W. Wekker Vega. A primeira “coincidência” teria sido a presença de uma pessoa com uma câmera profissional, às 2 horas da madrugada, nos arredores da refinaria, tendo filmado a primeira explosão. As imagens foram difundidas “com exclusividade”, em tempo recorde, pela Globovisión.
A matéria da AVN diz que à mesma hora da explosão foram registradas invasões de hackers nos sítios da Internet de três órgãos do Estado venezuelano: da Comissão de Administração de Divisas (Cadivi), do Observatório Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação e da Defesa Pública.
Outros indícios suspeitos: poucos minutos depois da tragédia foram disparados pela Internet milhares de “torpedos”, inclusive através de difusores automáticos; o tratamento “politiqueiro” dado ao fato por dirigentes da oposição, com ataques contra Chávez e a Pdvsa, a estatal de petróleo; e a circulação de informações falsas sobre o abastecimento de combustíveis, numa tentativa de gerar insegurança e caos social.
Pelo sim, pelo não, o sociólogo e cientista político argentino Atilio Boron publicou em seu blog matérias sobre as suspeitas (inclusive a da AVN referida acima), com o comentário:
“A explosão (...) não pode senão despertar suspeitas de que poderia tratar-se de uma das típicas sabotagens que o governo dos Estados Unidos costuma levar a cabo - através de diversos meios e agências - contra governantes que não se submetem às suas ordens. (...) Será o caso de acompanhar de perto as notícias e não me surpreenderia de forma alguma se num futuro não muito distante nossas suspeitas chegarem a ser cabalmente confirmadas”.
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