Roberto Numeriano
Vou a jogos de futebol desde os anos 70, quando ainda era possível ver torcidas rivais sofrendo ou sorrindo juntas, dividindo os mesmos espaços de arquibancadas. Amo o futebol. Mas não esse futebol que, em geral, é pura força física, pouquíssima arte e rara inteligência. Não é à toa que há tantos lances violentos, com fraturas, cabeçadas sangrentas, desmaios e lesões típicas pelo esforço muito forte, a exemplo de estiramentos musculares. Apesar de tudo, porque ainda é possível ver lampejos dessa bela arte nos pés de gênios como um Messi, para mim o maior desde que Pelé pendurou as chuteiras, curto as partidas e sigo dando meus palpites. Mas o que é insuportável nesta Copa é ver gente vaiando hino alheio, xingando a presidente da República e aplaudindo a seleção apenas quando está vencendo. E o pior é ver rostos desesperados num instante (diante de mais uma partida fraca da seleção da CBF), e, no segundo imediato, quando se percebem filmados e expostos nos telões dos estádios, exibirem as caras mais felizes do mundo... Como isso é possível? Que tipo de esquizofrenia é essa? Que tipo de gentinha é essa que vaia o hino de um país, ofende seu povo e amealha antipatia? Quem é essa gente mascarada que nem torcer sabe? Acha que isso é civismo e "amor à pátria"? Deve ser o mesmo tipo de gente que nos restaurantes e filas da vida afirma que todo político é ladrão, mas, se puder, sonega impostos, joga lixo pelas janelas de seus carros ou estaciona nas vagas de deficientes físicos.
Roberto Numeriano é jornalista, cientista político, servidor público e candidato a Deputado Federal pelo PSOL/PE.
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