O Dia da Vergonha
Esse titulo é uma das coisas que ficaram travadas na minha garganta desde os 10 anos. E sai só agora, passados quase meio século, exatos 47 anos e finalmente depois de mais de oito de um governo vitorioso, regido por um retirante nordestino, trabalhador, operário. Não bastou. Foi preciso o comando da nação passar a ser exercido por uma mulher que lutou contra a ditadura e que por ela foi torturada e condenada, para ser suspensa a determinação da comemoração da propalada Revolução Redentora do Glorioso dia 31 de março de 1964, nos quartéis.
-"Não é redentora, é rebordosa." dizia o Dr. Cartaxo (meu pai) porque só dez anos após o tiro do Presidente Getúlio Vargas(1954) , fazendo cessar as forças golpistas, que só vieram lograr êxito enfim, no dia da mentira de 1964, numa rebordosa, afastando do comando do país o herdeiro político natural de Getúlio Vargas, o trabalhista João Belchior Marques Goulart, o presidente da república brasileira mais injustiçado e esquecido da história.
Como ministro do trabalho do governo legítimo de Getúlio Vargas, João “Jango” Goulart, que o eterno PIG chama de “covarde”, entre outros inúmeros impropérios, deu um aumento de 100% ao salário mínimo. E depois como presidente da república regulamentou e limitou a remessa de lucro para o estrangeiro. E desenhava, de forma democrática, as reformas de bases. É preciso muita coragem para fazer coisas assim. E foi por essas que eles deram o golpe. Jango tinha coragem como poucos. O sangue que ele não queria ver derramado não era somente sangue brasileiro. Era também o de milhares de marines norte-americanos a bordo da sexta frota ameaçando os portos estratégicos da costa brasileira. E a gente nem tinha bem ainda o colosso do porta-aviões Minas Gerais!!!
O Brasil poderia virar uma Coréia ou um Vietnam, se africanizar, com os norte-americanos ocupando seu território matando sua população... Era isso que Jango temia mesmo. O glorioso exército do Estado de Minas Gerais financiando por banqueiros e latifundiários, era fichinha diante do que Brizola dispunha e o Brasil trabalhista e legalista, era maior ainda. O plebiscito que restituiu o poder presidencialista a Jango teve mais de 83% de aprovação.
É bom ressaltar que Jango tinha já sido vice-presidente do Brasil duas vezes: a primeira com Juscelino Kubitschek, quando ajudou a fazer o projeto de governo dos 50 anos em 5 do JK e a derrotar duas tentativas de golpes militares em Jacareacanga e Aragarças. E a segunda como vice do presidente Jânio Quadros observe, ele tinha sido sufragado com mais votos como vice do que os que teve o próprio presidente eleito. Naquele tempo, se votava também para a vice-presidência e Jango Goulatr na eleição presidencial teve mais votos como vice-presidente que o presidente eleito Jânio Quadros.
Na verdade, o golpe de 64, no dia da mentira foi uma reedição do plano Cohen. É hilariante o que fizeram com o Grupo dos Onze que inventaram para o Brizola. É uma fábula de horror. O que ele deve ter gerado: o Grupo dos Onze foi uma porção de times de futebol e nada mais.
Inventaram, para nós, planos de envenenar cidades e explodir gasodutos. Fizeram a marcha em defesa da Família com Deus pela Liberdade e a Propriedade e o diabo a quatro... Espalharam que íamos pintar o Cristo Redentor de vermelho e o Padre Cícero de preto. Foi realmente uma caça às bruxas e um deus nos acuda.
Só falam em nome dela: A soberania Nacional. Mas foram eles que a acabaram. E extraviaram nossas divisas, dilapidando o patrimônio nacional. Remeteram nossas riquezas para o exterior. Extinguiram as liberdades democráticas, implantaram a censuram, fecharam o congresso nacional, acabaram com o voto e a democracia. Depuseram o presidente da república legitimamente eleito e impuseram uma ditadura civil-militar por mais de 20 anos, servindo aos interesses norte-americanos. Isso tem nome: é crime de lesa pátria.
Venderam-nos a preço de banana. O Brasil deixava de ser republiqueta com Jango, fazendo negócio com a China enfrentando os males seculares que nos aprisionava ao subdesenvolvimento servil. As forças do atraso queriam atrelar nosso destino ao império norte-americano, um neocolonialismo fajuto. Nada mais que estripulias típicas do Jânio Quadros, das caças às brigas de galo e ao uso do biquíni! Com a ditadura, os brasileiros sucumbiram no mais completo complexo de vira-latas, numa síndrome de capacho sem precedentes. Era todo poder ao Tio Sam e brá. A gente era uma sub-raça e c’est fini. O povo que era “o cara” era o norte-americano. Era o papai sabe-tudo.
Incesto e pedofilia política, o Brasil a criancinha desamparada...
O rock’nd roll, a pílula anticoncepciona,l a minissaia, o “Black Power”, a emancipação da mulher, a defesa do verde, dos alucinógenos, o proibido proibir... eram mirabolantes invenções da KGB (o serviço secreto soviético) para aniquilar a família, a tradição e o América way of life... com tudo isso, ficava mais fácil para a glória do comunismo e a ditadura do proletariado triunfar. Seja lá o que isso significasse... Era o fim do mundo mesmo, não era o fim da história, coisa nenhuma. Os comunistas iam pegar nossas criancinhas e comê-las fritas no espeto no café da manhã e nossos velhinhos iam virar sopa na boca da noite. Então o jeito era a gente ficar à sombra dos EUA. O nosso grande irmão do norte. Era essa a nossa liberdade.
Tirando a tirania das comemorações oficiais da Revolução Redentora Gloriosa do dia 31 de março. A história do Brasil vai ficar menos falsa. Vai ficar assim como o Dia do Fico, que não existe mais. Hoje se sabe que o Imperador só ficou porque não tinha para onde ir. O que vai ficar na história não é 31 de março coisa nenhuma. É o golpe do dia da mentira de 1 de abril de 64, isso sim. Com essa atitude de excluir a data, a presidenta Dilma dá uma demonstração que vem para colocar a história no seu devido lugar.
A Redentora Gloriosa Revolução de 1964 não passa de um brutal golpe que a partir do nosso país atingiu toda a América do Sul num efeito dominó. E o Brasil na América de hoje está sendo a última nação a colocar a gorilada fardada no limbo da história, que é seu lugar. Vivemos uma vergonha maior que a de ser o último país na América a libertar os escravos.
Golpe entreguista, feito por uma gorilada nada gloriosa que é um degrau descendente na evolução do que Lampião chamava de “macaco” a policia. Não é politicamente correto compará-los com os primatas, é que os primatas não merecem tal comparação. A volante dos gorilas entrou na biblioteca da minha casa no dia da mentira de 1964.
Queimaram metade dos livros. Deixaram como prova da gorilada entre outras a queima do romance” O Vermelho e o Negro”, de Stendhal, ficando intacto o exemplar de “A Origem da Família da Propriedade Privada e do Estado” do Friedrich Engels. É a mais pura verdade.
É um passo, ainda que pequeno diante das atrocidades cometidas. Entretanto, simboliza novos ventos com o acerto à nossa história. Só abolir do nosso calendário democrático a obrigação de reverenciar a ditadura a 31 de março quer significar uma ruptura simbólica, que pouco a pouco, vai refazer a dignidade da pátria.
Tomará que seja um primeiro passo para esclarecer as novas gerações, o que de fato vivemos e quem são os heróis e os bandidos desse episódio histórico que ceifou a democracia nascente que vinha, como uma flor, pedindo carinho e atenção!
Vamos agora à Comissão da Verdade para limpar e refazer a alienação que fizeram contra a honra e o caráter, a dignidade e os princípios dos homens e mulheres brasileiras que lutaram e são exemplos na nossa história libertária pela autonomia deste nosso povo alegre, belo, viril e trabalhador, disposto e consciente a manter, exaltar e ampliar seus direitos à liberdade, determinação e auto-estima. Mais ainda, agora com a Dilma como profetizou o ex-presidente Lula.
Por Luiz Edgard Cartaxo de Arruda Junior.
Memorialista. cartaxoarrudajr@gmail.com
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