Lauro Fabiano |
Citando o jurista e professor Walter Maierovitch, "conveniência e oportunidade deixam, no mundo civilizado, as polícias fora dos campi universitários". Em São Paulo, não estamos no mundo civilizado. O Governador Geraldo Alckmin autorizou que sua polícia militar, despreparada para lidar com estudantes, presente no campus da USP desde setembro passado, prendesse 70 universitários, acusados de "formação de quadrilha", ao retomar o prédio abandonada onde os alunos mantinham um centro de convivência. O flagrante apreendeu três cigarros de maconha. Sim, três cigarros de maconha. Os estudantes reagiram às agressões. O Reitor João Grandino Rodas, não deixará saudades. O Governador, perdido com a segurança pública, permite que sua polícia aja de maneira fascista com estudantes. A mídia golpista, que sempre se coloca de maneira tendenciosa, espalha que o conflito é entre "estudantes-traficantes", como se tudo fosse pela liberdade de fumar um baseado nas dependências da Universidade. A classe média, formada pela mídia, coloca-se ao lado do governo - reclamam que os jovens são apáticos, mas, quando estes resolvem enfrentar o fascismo, são recriminados. Nada se falou que, ao ocupar a reitoria, os estudantes encontraram um documento com a compra de um tapete de R$32 mil e que denunciam um processo de privatização "oculto" via Conselho Universitário (privatização com elementos ocultos parece ser prática comum em estruturas governadas pelo PSDB). Sempre que se fala dos universitários se rebelando, é inevitável lembrar que na Universidade de Nanterre, arredores de Paris, o estudante Daniel Cohn-Bendit iniciou uma série de protestos que tomaram força a partir de maio de 1968, culminando com uma greve geral que ocupou fábrica e paralisou 6 milhões de trabalhadores, todos buscando mudanças no panorama social. Fala-se de 1968 e da França, esquecendo que aqui mesmo, no Brasil, antes dos franceses, o estudante paraense Edson Luís Souto foi morto a tiros no RJ, em 28/03/68, quando começaram manifestações de estudantes por melhores refeições no restaurante universitário da UFRJ. Foi velado sob os gritos "mataram um estudante, podia ser seu filho". E esse fato, a polícia confrontando estudantes que querem melhorias em sua vida universitária, acendeu estopins e jogou os jovens na luta contra a ditadura. Nos dias de hoje, o país não é governado por uma ditadura e os estudantes estão apoiando as mudanças sociais em curso desde o governo Lula. Querem um mundo melhor, sem dúvida. Mas estão brigando pela autonomia universitária, pelos campi públicos serem locais onde a violência não entre de nenhuma forma. Geraldo Alckmin dá entrevistas fugindo de questões centrais e, com isso, parece-me um novo Maluf, obstinado com seu próprio discurso, com sua mensagem estilo "vou colocar a Rota nas ruas", abertamente convidando à truculência. Daí para a operação cracolândia, com os aliados municipais, um dantesco show de despreparo e falta de política social séria, foi só um passo. Nem vou abordar a questão dos grandes interesses imobiliários que há nessa manipulação da cracolândia. Há seguranças privados que "tocam os nóias" de um lugar para outro, tendendo a prejudicar e desvalorizar áreas da região. Todos os comerciantes do local sabem quem faz e a mando de quem, mas, o "jornalismo investigativo" da grande mídia não tem interesse em contrariar alguns de seus grandes anunciantes. Passo a passo, assim, São Paulo caminha para um vácuo político que afeta a segurança pública e a vida dos cidadãos. Esse é o "choque de gestão", que provoca "incêndios" e conflitos ao longo do exercício do poder.
Lauro Fabiano de Souza Carvalho
twitter: @laurofab
Nenhum comentário:
Postar um comentário