O ano era 1983. A Revista Veja, então com 15 anos de história, cai no conto da revista inglesa New Science, que em todo 1° de abril costumava soltar notícias absurdas sobre descobertas científicas. Naquele ano, a publicação britânica noticiou a descoberta do “fruto da carne”, derivado da fusão da carne do boi e do tomate, batizado com o sugestivo nome de “boimate”.
Para a Veja, este constituiu-se, sem dúvida, no mais sensacional ” fato científico” daquele ano e assim publicou uma reportagem na sua edição de 27 de abril. Na verdade, tratou-se da maior “barriga” (notícia inverídica) da divulgação científica brasileira.
O autor da gafe foi o diretor de redação da revista na época, Eurípedes Alcântara. Inclusive, ele se tornou uma entidade mitológica no jornalismo brasileiro. Ele ficou tão empolgado com a matéria que nem percebeu as pistas que a New Science colocou no texto. Além da idéia já inicialmente absurda, a revista disse que a descoberta havia sido feita pelo Dr. McDonald’s (referência a lanchonete) na Universidade de Hamburgo, Hamburguer em inglês.
Com o texto original nas mãos, Eurípides convocou o correspondente da Veja na Alemanha para repercutir junto a comunidade científica. Sabendo da tamanha bobagem, ele não aceitou trabalhar nesta matéria e acabou sobrando para um repórter entrevistar um engenheiro genético da USP, Ricardo Brentani. No primeiro contato do repórter, o cientista disse ser impossível tal experiência. Com a pauta nas mãos e precisando de uma boa declaração, o repórter insistiu mudando a pergunta para “Mas suponhamos que…”. O geneticista caiu e estava aí a maior barriga do jornalismo científico apoiada por alguém da USP.
Dentre os absurdos da matéria, que você pode ler na íntegra abaixo, o seguinte trecho: “a experiência dos pesquisadores alemães, porém, permite sonhar com um tomate do qual já se colha algo parecido com um filé ao molho de tomate. E abre uma nova fronteira científica”.
A descoberta do engano foi feita pelo jornal O Estado de S. Paulo que, após esperar inutilmente pelo desmentido, resolveu ” botar a boca no mundo” no dia 26 de junho.
Finalmente, com o objetivo de pôr fim ao caso que já divertia as redações, a Veja publicou, na edição de 6 de julho, ou seja, depois de dois meses, o desmentido: ” tratou-se de lastimável equívoco”. E justificou-se, explicando que é costume da imprensa inglesa fazer isso no dia 1º de abril e que, desta vez, havia cabido à revista entrar no jogo, exatamente no ” seu lado mais desconfortável”.
Na edição comemorativa de 30 anos, a Veja publicou uma pequena nota sobre o caso, leia aqui.
Confira a matéria na íntegra em um scan da revista original publicado no blog do Nassif. Detalhe especial para o lide: “Familiarizados com as delicadas estruturas da células…”
Agora destaque para o infográfico da Veja. Além do absurdo, vale a pena para ver como era feito sem o auxílio de computadores.
Aqui segue uma carta do leitor publicada na edição seguinte a do Boimate. Hilário!
Fonte: Gafes da Imprensa
Opinião dO Cachete:
A VEJA continua com suas ficções e ainda continuam aparecendo leitores (No caso, um certo Chico Bento!) que acreditam nas suas bobagens... O tempo passa e nada muda!
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