Dra. Marise Morais Psicóloga |
No último dia quinze de março assistimos a mais um espetáculo da democracia onde pessoas que fazem oposição ao governo puderam demonstrar seu desagrado. Tenho amigos queridos que são pessoas bem intencionadas, honestas e que são de oposição, a quem respeito e por quem tenho profunda amizade. Faço essas ressalvas para que fique claro que não sou adepta do maniqueísmo infantil e paranoico do jogo eles são as bruxas e nós somos as fadas, não é isso. Mas para pontuar o que me chamou a atenção nos protestos.
Não sei se é o vício metodológico ou o vício de análise de discurso do psicólogo, mas o que mais me chamou a atenção foi a falta de unidade de objetivos. Afinal, era contra o governo? Era por uma ditadura militar? Era por uma intervenção americana? Era a favor da homofobia? Era a favor do feminicídio? Parece absurdo mas todas essas questões eu vi colocadas em placas, isso sem falar em apelos ao nazismo inclusive com a suástica e o cumprimento nazista de braço erguido para o céu.
Um outro argumento usado foi que a passeata era contra o governo e em defesa da família. Em alguns lugares, vimos mulheres absolutamente nuas, outras com seios à mostra apenas pintados com as cores da nossa bandeira (e não sou daquelas pessoas que viram o rosto para aspectos anatômicos humanos pois, além de psicóloga, sou artista plástica), mas como diria Mãe Olga de Arakêto: "Roupa de Santo é roupa de santo e roupa de missa é roupa de missa".
Um outro argumento é que a passeata seria contra a corrupção e foi aí que me doeu ver pessoas honestas com suas famílias ao lado de políticos reconhecidamente corruptos, processados e condenados por alta corrupção lado a lado. Naquele dia, o provérbio "diz-me com quem andas" não valeu.
Ver Agripino Maia, Rosane Malta (ex- Collor) que em única viagem a Paris chegou a gastar trinta mil dólares de lingerie da Victoria's Secrets e foram pagos pelo governo), políticos processados por escravidão em suas fazendas estavam lá em defesa da liberdade contra a corrupção.
Todos esses acontecimentos estavam sendo noticiados por emissoras de televisão que são concessões do governo e as maiores devedoras do imposto de renda e que somente por isso parecem ter por trás dessas campanhas objetivos escusos e até mesmo sombrios. As famílias que detêm essas concessões são devedoras e agora aparecem em listas de bancos estrangeiros como sonegadoras, estando agora sob investigação. O que já colocaria sob suspeição seus discursos inflamados e sua programação. A mídia sempre serviu como programadora de pensamentos e "idealismos". Lembremos o nazismo que foi todo montado em cima de propaganda.
Socialities esbravejando contra o bolsa-família porque cria dependência e vagabundagem quando sabemos que muitas recebem a bolsa-filhinha-de-papai e que é uma polpuda pensão paga às filhas solteiras de militares - tenho amigas que já são avós e ainda recebem pois nunca se casaram oficialmente.
Mas por que tanta perseguição? É contra o governo? É contra uma mulher ser presidente? Ou é exatamente aquilo que vimos na passeata? Políticos oportunistas, algumas pessoas de bem, mas, direcionadas por um discurso midiático distorcido que esconde interesses escusos? É o "cada um por sim" e cada qual no seu quadrado? ou tudo isso tem um objetivo muito maior e muito mais obscuro? A história está repleta de perseguidores com razões obscuras.
John Edgar Hoover ficou famoso por ser o chefe do FBI e por sua luta contra a pornografia, em defesa da família (a lei da ""mistress" – amante - foi ao congresso graças a seus "esforços") e no combate aos gays e ao comunismo. Serviu (e serviu-se) a oito presidentes americanos e foi o perseguidor implacável de políticos, artistas, civis e militares que não se enquadravam em sua cruzada em defesa da família e da democracia americana.
Mas como Hoover tinha acesso a informações tão pessoais como as que se relacionavam aos políticos de orientação homoafetiva, de uma vez que àquela época tudo era muito discreto? Como saberia se um político tinha uma amante e viajaria com ela para outro estado? Como saberia sobre pornografia, inclusive pornografia infantil naquela época em que as comunicações eram escassas para os civis? Simplesmente porque esse era o mundo em que ele parecia conviver.
Inteligentemente, esse homem usou todo o sistema de segurança do presidente dos Estados Unidos da América para espionar, chantagear, obter favores e ficar milionário. Utilizou as redes de televisão para manipular e fazer campanhas anticomunistas contra artistas que sabiam das suas relações com outros homens e para obter vantagens de políticos. Criou um programa que chamou de "jogos sujos", o COINTELPRO para perseguir ativistas pela paz. E possuía a maior coleção de pornografia do mundo. Ao morrer deixou sua casa e toda sua fortuna para Clyde Tolson com quem sempre passou suas férias, almoçava e jantava todas as noites e dizia ser seu alter-ego. E ao lado de quem está sepultado.
Foi perseguidor implacável de Charles Chaplin, John Lennon, Martin Luther King além de outros diretores e atores que ficaram sem trabalho no cinema americano, por razões políticas.
Parece que estamos vivendo uma espécie de Síndrome de Hoover. Perseguir, alardear e fazer campanhas acirradas de ódio, perecem ser indicadores de que há algo de estranho no outro que eu não suporto (como nos falava Freud, talvez por ser muito familiar) ou então é o velho cinismo de atacar para disfarçar e esconder. Até quando padeceremos da Síndrome de Hoover de poucos para sacrificar muitos?
Mas como diz o poeta, no fundo, "Narciso acha feio o que não é espelho”.
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