Pablo Villaça Crítico de Cinema |
Até que demorou, mas hoje o juiz Sérgio Moro finalmente decidiu assumir a postura de dono do limite da liberdade de imprensa e de expressão. No início da manhã, o blogueiro Eduardo Guimarães foi vítima de condução coercitiva por parte da Polícia Federal, que agiu com a autorização de Moro. Querem saber qual a acusação? Que crime ele cometeu? Quantas vezes se recusou a depor até passar pela condução coercitiva?
Nenhuma. Nenhum. Nenhuma.
Sem jamais ter sido intimado para depor, Guimarães foi forçado a ir prestar depoimento não acerca de algum ato ilícito, mas como testemunha de um processo acerca do vazamento de uma informação - neste caso específico, por ter antecipado que Lula passaria (vejam só a ironia) por condução coercitiva na manhã seguinte.
Vamos contar os absurdos da situação? Vamos: uma testemunha (ponto 1) que jamais havia sido convocada a depor (ponto 2) passa por condução coercitiva (ponto 3) e tem seus equipamentos confiscados pela PF (ponto 4) para que revele quem foi sua fonte de informação (ponto 5).
Ah, mas não para por aí: como o jornalista tem direito a preservar sua fonte, Moro usou como justificativa o fato de Guimarães NÃO SER FORMADO EM JORNALISMO. (Mesmo que no Brasil não haja a exigência de diploma para exercer a profissão.)
Já é o suficiente? Não? Querem mais absurdos? Ok: segundo o advogado de Guimarães, Fernando Hideo, que conversou com Renato Rovai, "o o juiz Sérgio Moro está processando Eduardo Guimarães por conta de um post que ele fez no seu blogue. Ou seja, (...) é suspeito para lhe dar ordem de condução coercitiva e não poderia ter agido neste caso."
Mas este é o Brasil de hoje: o mesmo Moro que vazou para a imprensa as gravações ILEGAIS entre Lula e Dilma agora reprime um blogueiro por divulgar uma informação passada por fonte anônima. (Ah, qual foi a punição de Moro, por sinal? Nenhuma. Ele apenas pediu "desculpas" ao STF por suas ações.)
Tenho várias ressalvas quanto ao tipo de jornalismo que Eduardo Guimarães pratica (algumas são puramente estéticas, confesso; há um tom sensacionalista que me desagrada em seus textos) e já discutimos publicamente no Twitter há muito tempo (salvo engano, ele chegou a me bloquear). Mas mesmo que ele fosse, sei lá, Rodrigo Constantino eu o defenderia neste caso sem qualquer hesitação - o que está em jogo aqui são a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa.
E que os jornalistas e blogueiros da direita não se iludam: a repressão, quando normalizada, não respeita fronteiras ideológicas. Em outras palavras: se não se posicionarem diante deste absurdo por uma questão constitucional, posicionem-se ao menos por interesse próprio.
O que ocorreu hoje é apenas o começo; para onde caminhará, ninguém é capaz de antecipar.
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